Hoje o Blog POLO SÃO GABRIEL apresenta uma matéria com uma “cria” dos campos de São Gabriel, que com sua força de vontade, soube aproveitar oportunidades e aos 26 anos já rodou a Europa pelos campos de pólo.
RAPHAEL DELGADO POUEY DE OLIVEIRA
Nascido em Uruguaiana em 12 de dezembro de 1984, casado com Silvia Cantão Pouey de Oliveira, hoje é objetivo desta entrevista.
PSG: Como começou sua experiência no Pólo?
Raphael: Comecei totalmente sem querer, um dia meu pai me convidou para assistir um jogo de pólo na TV e fiquei fascinado com o esporte. No dia seguinte falei com César Giuliani (Rizicultor do Município de São Gabriel, que praticava o esporte) se ele podia me levar para ver um treino nos campos do 9º Regimento de Cavalaria Blindado. Um mês depois de assistir o primeiro treino conheci o Cel César Augusto Skilhan Teixeira, então comandante do 9º RCB e ele me convidou para participar da escolinha de pólo que começaria em abril de 1999. Aceitei na mesma hora. Ao término da escolinha de pólo veio o inverno, paramos de jogar, mas aquilo ficou em mim, ao findar da temporada de chuvas os jogos recomeçaram e meu pai me presenteou com 3 cavalos para jogar. Ao lado de Conrado Assis Brasil, durante um ano joguei pólo em São Gabriel, quando, então, pedi a meu pai para jogar em Uruguaiana. Já sonhava em fazer do Pólo minha profissão. Mudei-me para Uruguaiana em abril de 2001, levei comigo 9 cavalos e um peticeiro, morava com minha Avó, estudava de noite para poder jogar pólo todo o dia. Depois de um mês em Uruguaiana o Cel Castilho, procuro o meu pai e eu para uma conversa, ele sabia que o pólo era um esporte caro e que seria difícil manter a estrutura que estávamos montando. Assim sendo, ele me convidou para ir jogar no Boa Vista com ele, eu tinha apenas 17 anos. Ao chegar no Boa Vista pensava que sabia muito sobre pólo, só pensava! Lá comecei a montar todo o tipo de cavalo, do mais fácil ao mais difícil. Montava todos os dias de manha e de tarde, e de noite tinha aula. Nunca faltei aula.(risos)
PSG: Como surgiu a oportunidade de ir para Europa?
Raphael: Depois de alguns anos jogando no Boa Vista recebi um convite para ir para a Alemanha trabalhar como de peticeiro e jogador, mais peticeiro que qualquer outra coisa. Pedi Autorização a meus pais, e orientação ao Cel Castilho e fui. Eu tinha 19 anos e 0 gol de handicap, um brenha.(risos)
Assim, fui parar em Berlin, lá cuidava 5 cavalos, peticeiro mesmo, limpava cocheira, varria todos os dias, encilhava para a patroa jogar, e quando surgia uma chance eu jogava. No primeiro ano joguei 4 torneios, chegando a 2 finais.
Depois disso fui crescendo, e em 2005 fui para Argentina jogar com Adrian Laplacet, 6 goals, onde aprendi muito sobre pólo. Após 3 meses retornei para Europa, troquei de emprego, virei profissional, hoje tenho 5 cavalos meus o ano inteiro lá. Nesse tempo aprendi a dar aulas, a fazer cavalos para venda, e vendo material de pólo, mais para facilitar a vida de amigos, por viver neste meio, sempre consigo preços bons.
PSG: Quais as diferenças entre o pólo alemão e o gaúcho?
Raphael: O pólo na Alemanha é parecido com o gaúcho, mesmo nível de handicap e todo mundo se conhece. A maior diferença está na organização, e isso faz tudo mudar.
Os torneios são todos jogados a 4 tempos, não existem torneios com numero de times impares, ou seja, não existe americano nos torneios. Os campos são bons, não como São Paulo, mas são melhores que os do Rio Grande do Sul. Alguns torneios para 2011 já estão prontos, com as inscrições lotadas, e tabelas de jogos disponíveis na internet. Tudo isso é possível graças a um calendário muito bem organizado e seriedade dos clubes. Outra diferença sobre o pólo no RS é que lá não se pára de jogar no período chuvoso porque colocam areia nos campos tornado-os menos escorregadios.
A federação alemã tem muita forca, e é muito organizada. Todos os jogadores pagam anuidade de 200 Euros, quem não pagar não pode jogar torneios oficiais. Os clubes também são obrigados a pagar uma anuidade.
Existe dentro da federação Alemã, uma lista de juizes, divididos por níveis, A, B e C. Os árbitros são avaliados através de uma prova, cada nível dá ao jogador condições para apitar um certo nível de pólo. Lá os juizes normalmente são contratados.
Na Alemanha o pólo e um Hobby para 90% das pessoas, mas um Hobby muito bem organizado, tanto e que nem um cavalo pode jogar sem ter liga ou protetores nas 4 patas, nem um juiz pode apitar sem o capacete, todos os jogos tem hora para começar, sujeito a multas por atraso. Até os treinos são de calça branca. O investimento em animais é bem maior que aqui, as pessoas investem no pólo, porque querem jogar bem, e sabem que sem bons cavalos isso e impossível.
PSG: Na sua opinião, o que é preciso para que o Pólo Gaúcho evolua?
Raphael: Acredito que o pólo no RS continue crescendo de forma muito lenta, por uma questão de mentalidade. Muitos ainda acreditam que o pasto é suficiente ao cavalo de pólo, quando hoje em dia existem especialistas em nutrição do cavalo atleta. Para um crescimento mais rápido é necessário, investir em cavalos e investir em bons tratadores. Que os clubes melhorem seus campos, com irrigação, adubo, areia e etc.
Só montar bem a cavalo já não basta, é preciso dedicação. É preciso organizar uma federação de pólo forte, apoiada por todos. Anuidades e inscrições devem elevar o padrão da premiação estimulando a competição entre as equipes. É preciso estabelecer um quadro de juizes habilitados e conhecedores das regras. É preciso, também dar visibilidade ao esporte através da mídia regional.
PSG: Que mensagem você gostaria de deixar aos leitores?
Raphael: O Rio Grande do Sul foi campeão brasileiro em 1984 com um time de 22 gols em São Paulo e todos os jogadores eram gaúchos, hoje não conseguimos nem fazer um time de 15 gols com jogadores da região, e isso em um mundo onde o pólo cada dia é mais popular. Ao olharmos a relação de handicap da Federação Gaúcha de Pólo não encontraremos nenhum jogador gaúcho em atividade na região com 3 gols de handicap. Minha esperança é que com este relato de minha pequena experiência possa ajudar a mudar a cabeça das pessoas porque só assim o pólo Gaúcho vai mudar.